quarta-feira, julho 23, 2008

Conservar, restaurar, reciclar

A idéia da preservação nunca esteve tão relacionada à questão da sustentabilidade e do uso racional dos nossos recursos naturais. Neste sentido, as ações que tem como objetivo minimizar o impacto que a produção de bens acarreta no ambiente natural são sempre bem vindas. Em sua 13a. edição, a oficina de Conservação em Madeira – Ênfase em Móveis e Objetos ocorre de 04 de agosto a 17 de novembro de 2008 no Museu Julio de Castilhos – Rua Duque de Caxias, 1205 – Porto Alegre – RS. A oficina tem por objetivo recuperar a beleza e a funcionalidade de móveis e objetos em madeira, levando em conta os aspectos originais de cada peça que estão relacionados a seus respectivos estilos. O conteúdo a ser desenvolvido tratará da História do Mobiliário, critérios de restauração, ferramentas utilizadas, tipos de madeiras e suas caracterísitcas, descupinização, remoção de tintas, reparos na madeira e acabamentos empregados. As aulas ocorrerão às segundas-feiras das 9h às 12h ou das 14h às 17h30min e será ministrada por Marjane de Andrade. O valor da inscrição é de R$ 155,00 mais três parcelas R$ 145,00. As inscrições estão abertas para o Módulo I. Informações no local e pelo telefone (51) 32213959 ou e-mail: marjanedeandrade@gmail.com.


Foto: André Nery para a edição no. 48 da revista Goldnews. As fotos foram feitas a partir das peças produzidas na edição 2007 da oficina.

segunda-feira, julho 21, 2008

As mudanças no jeito brasileiro de morar com a chegada da corte portuguesa


Um jantar brasileiro (1827) - Debret. Aquarela. 15,9 x 21,9 cm

A invasão de Napoleão a Portugal, fazendo com que a corte portuguesa desembarcasse no Brasil, em 1808 trouxe mudanças sociais importantes em especial, no que diz respeito ao jeito de morar do brasileiro. Depois de um mês, em Salvador aonde chegou em 22 de janeiro de 1808 migraram para o Rio de Janeiro. A realeza portuguesa encontrou uma cidade cercada de pântanos e mangues. As casas construídas em um só pavimento eram erguidas utilizando-se a pedra, o barro e a madeira. As moradias em dois pavimentos localizavam-se no centro da cidade próximas aos conventos e igrejas. As igrejas eram construções que apresentavam uma ornamentação sofisticada, empregando-se a talha em madeira. Porém, na maioria das casas comia-se sentado no chão, sobre esteiras. As mesas eram raras e quando encontradas apresentavam uma estrutura com tábuas sobre cavaletes. As roupas eram guardadas em arcas, baús ou canastras. Os primeiros baús trazidos pelos portugueses eram revestidos com pele de bezerro, tachas de metal e tampa abaulada. As redes eram usadas para dormir – um hábito que o colonizador português adquiriu com os índios. No entanto, desde a chegada dos primeiros donos de capitanias hereditárias que o móvel europeu convive no mesmo espaço com a rede produzida pelos índios. O móvel de estilo manuelino (1600 -1700), considerado estilo nacional português ocupava o mesmo espaço que a rede tramada em palha de buriti.
A corte portuguesa trouxe na bagagem roupas, jóias, móveis, louças, tapetes e ornamentos de parede. Os móveis trazidos foram os armários, guarda-louças, papeleiras, cristaleiras, camas e também candelabros e lustres de cristal francês. A sala de jantar passa a ser um espaço importante onde o canapé (móvel formado pela junção de duas ou mais cadeiras), juntamente com as cadeiras, mesinhas e consoles são os móveis utilizados. Nas salas de jantar, as mesas possuíam gavetas sob o tampo para guardar um novo tipo de utensílio: o faqueiro. Além do faqueiro os habitantes da nova capital do Império luso-brasileiro foram apresentados a toalhas de linho, baixelas de prata, pratos de porcelana ingleses e franceses, copos de cristal, açucareiros.
A casa brasileira se sofisticou com a chegada da corte portuguesa. O mobiliário passou a ser sinônimo de atualização com o estilo de vida europeu. Os armários produzidos em jacarandá e peças de cristal, em especial os lustres Baccarat passaram a ser sinal de status. Os estilos empregados no mobiliário vincularam-se aos modelos europeus. O Sheraton brasileiro (estilo D. Maria I) e o estilo D. João VI (considerado genuinamente brasileiro, uma vez que não foi produzido na Europa). O ecletismo do final do século XIX com o vitoriano, no Brasil. Um dos aspectos importantes em relação a casa brasileira e ao mobiliário produzido é a sobriedade e o uso de madeiras brasileiras como o jacarandá, o mogno, o cedro, o vinhático e o piquiá – madeira de cor marfim, sendo a mais encontrada na cor amarela. A suaçucanga também usada - uma madeira de cor marfim, bastante dura e utilizada para marchetar em substituição ao marfim. O uso da palha vegetal é um dado a ser destacado uma vez que o móvel europeu produzido neste período privilegia o uso dos veludos, brocados e tapeçarias.
A abertura dos portos possibilitou a importação de produtos sofisticados. A criação do Colégio das Fábricas, em 1809 - uma iniciativa de D.João VI viabilizou o ensino da marcenaria para a produção de móveis de estilo. A França se impõem como referência cultural na Europa e na América, após a queda de Napoleão em 1814. Em 1816, a Missão Artística Francesa chega ao Brasil trazendo os artistas desempregados que buscavam oportunidades na América. A Academia de Belas Artes é fundada fazendo com que o estilo neoclássico encontrasse a partir desse momento um solo fértil para a sua difusão nas artes e no mobiliário.


O tempo da corte no Brasil

1808 de Laurentino Gomes, editora Planeta.
Narra a saga da corte portuguesa e de como
D. João VI modernizou o Brasil.


Texto: Marjane de Andrade

sábado, julho 12, 2008

A Primeira Missa no Brasil

Primeira Missa no Brasil - Victor Meirelles. Óleo sobre tela. 270x357 cm

O MARGS traz ao estado uma obra fundamental da pintura histórica brasileira do século XIX: a Primeira Missa no Brasil, de 1860, executado pelo artista catarinense Victor Meirelles (1832-1903) e pertencente ao Acervo do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro - MNBA. A exposição A Primeira Missa no Brasil – O renascimento de uma pintura é dividida em três segmentos. O módulo Histórico traz uma fotografia do artista, uma litografia e 11 desenhos que serviram como estudos para o quadro, além de seis documentos que tratam da biografia de Meirelles e das sucessivas restaurações da obra. O núcleo Restauração apresenta 11 painéis fotográficos que documentam o mais recente processo de restauro do quadro, concluído em 2006, acompanhados de um texto da restauradora responsável, Andréa Pedreira. Completando o registro, o módulo Vídeo apresenta um DVD com algumas etapas do trabalho de recuperação da pintura.

O Artista

Victor Meirelles de Lima nasceu em Nossa Senhora do Desterro – Florianópolis, em 1832. Desde cedo realizava desenhos da paisagem da cidade. No Rio de Janeiro, freqüentou a Academia Imperial de Belas Artes, conquistando aos vinte anos o Prêmio Especial de Viagem à Europa. Durante o período em que esteve estudando fora do Brasil, viveu entre a Itália e a França. Na França, estudou na Escola Superior de Belas Artes de Paris com Leon Cogniet e Andréa Gastaldi. Foi Manuel de Araújo Porto Alegre que incentivou Vitor Meirelles a pintar o quadro a Primeira Missa no Brasil, sendo este o último projeto que o artista realizou na Europa. No retorno, tornou-se professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes. Vitor Meirelles foi professor, desenhista, pintor e, antes de tudo um trabalhador incansável, deixando um acervo de retratos, panoramas e quadros históricos; além de esboços, estudos em papel e óleos sobre tela. A arte de Meirelles segue os cânones do academismo que a Missão Francesa ajudou a difundir no Brasil. No entanto, tornou-se o precursor na arte voltada ao aspecto educativo. Foi saudado pelo Império e pela crítica conservadora. Os republicanos o discriminaram e abandonaram. O artista faleceu em 22 de fevereiro de 1903, no Rio de Janeiro.

A Obra

A Primeira Missa no Brasil (1860) deu a Vitor Meirelles a condecoração como Cavaleiro da Ordem da Rosa por Dom Pedro II. Foi a primeira obra de um artista brasileiro a ser exposta no “Salon” francês(1861). Em 1862, a obra foi aberta à visitação na Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial. E, fez parte do Acervo da Escola Nacional de Belas Artes – que substituiu a Academia Imperial. Em 1937, foi transferida para a coleção do Museu Nacional de Belas Artes.
As duas grandes viagens que realizou – da França para o Brasil e daqui para os EUA por ocasião da participação na Exposição Universal de Filadélfia (1876) fez com que a obra passasse pela primeira restauração (1878). No retorno, ao Brasil a obra apresentava-se danificada. A tela estava mofada e a estrutura enfraquecida, apresentando um furo no centro. Em 1921, a obra seria destaque da Exposição Universal, no Rio de Janeiro. No entanto, para que a obra participasse da mesma, uma comissão avaliou o estado de conservação, sendo considerado péssimo. A opção foi a completa reentelação da obra. Em 1969, passou por novas restaurações, sem que fosse, entretanto, necessária a recuperação estrutural do suporte. Após uma viagem, em 2000 a tela foi retirada do circuito expositivo do MNBA – Museu Nacional de Belas Artes. A última restauração foi concluída em 2006 e a obra devolvida ao público.



A Primeira Missa no Brasil -
O Renascimento de uma pintura
MARGS ADO MALAGOLI
Local: Praça da Alfândega s/no. - POA/RS
De terças a domingos das 10h às 19h
Data: Até 27 de julho
Ingresso solidário: doação de uma peça
de roupa ou quilo de alimento não perecível.

Texto: Marjane de Andrade