segunda-feira, julho 21, 2008

As mudanças no jeito brasileiro de morar com a chegada da corte portuguesa


Um jantar brasileiro (1827) - Debret. Aquarela. 15,9 x 21,9 cm

A invasão de Napoleão a Portugal, fazendo com que a corte portuguesa desembarcasse no Brasil, em 1808 trouxe mudanças sociais importantes em especial, no que diz respeito ao jeito de morar do brasileiro. Depois de um mês, em Salvador aonde chegou em 22 de janeiro de 1808 migraram para o Rio de Janeiro. A realeza portuguesa encontrou uma cidade cercada de pântanos e mangues. As casas construídas em um só pavimento eram erguidas utilizando-se a pedra, o barro e a madeira. As moradias em dois pavimentos localizavam-se no centro da cidade próximas aos conventos e igrejas. As igrejas eram construções que apresentavam uma ornamentação sofisticada, empregando-se a talha em madeira. Porém, na maioria das casas comia-se sentado no chão, sobre esteiras. As mesas eram raras e quando encontradas apresentavam uma estrutura com tábuas sobre cavaletes. As roupas eram guardadas em arcas, baús ou canastras. Os primeiros baús trazidos pelos portugueses eram revestidos com pele de bezerro, tachas de metal e tampa abaulada. As redes eram usadas para dormir – um hábito que o colonizador português adquiriu com os índios. No entanto, desde a chegada dos primeiros donos de capitanias hereditárias que o móvel europeu convive no mesmo espaço com a rede produzida pelos índios. O móvel de estilo manuelino (1600 -1700), considerado estilo nacional português ocupava o mesmo espaço que a rede tramada em palha de buriti.
A corte portuguesa trouxe na bagagem roupas, jóias, móveis, louças, tapetes e ornamentos de parede. Os móveis trazidos foram os armários, guarda-louças, papeleiras, cristaleiras, camas e também candelabros e lustres de cristal francês. A sala de jantar passa a ser um espaço importante onde o canapé (móvel formado pela junção de duas ou mais cadeiras), juntamente com as cadeiras, mesinhas e consoles são os móveis utilizados. Nas salas de jantar, as mesas possuíam gavetas sob o tampo para guardar um novo tipo de utensílio: o faqueiro. Além do faqueiro os habitantes da nova capital do Império luso-brasileiro foram apresentados a toalhas de linho, baixelas de prata, pratos de porcelana ingleses e franceses, copos de cristal, açucareiros.
A casa brasileira se sofisticou com a chegada da corte portuguesa. O mobiliário passou a ser sinônimo de atualização com o estilo de vida europeu. Os armários produzidos em jacarandá e peças de cristal, em especial os lustres Baccarat passaram a ser sinal de status. Os estilos empregados no mobiliário vincularam-se aos modelos europeus. O Sheraton brasileiro (estilo D. Maria I) e o estilo D. João VI (considerado genuinamente brasileiro, uma vez que não foi produzido na Europa). O ecletismo do final do século XIX com o vitoriano, no Brasil. Um dos aspectos importantes em relação a casa brasileira e ao mobiliário produzido é a sobriedade e o uso de madeiras brasileiras como o jacarandá, o mogno, o cedro, o vinhático e o piquiá – madeira de cor marfim, sendo a mais encontrada na cor amarela. A suaçucanga também usada - uma madeira de cor marfim, bastante dura e utilizada para marchetar em substituição ao marfim. O uso da palha vegetal é um dado a ser destacado uma vez que o móvel europeu produzido neste período privilegia o uso dos veludos, brocados e tapeçarias.
A abertura dos portos possibilitou a importação de produtos sofisticados. A criação do Colégio das Fábricas, em 1809 - uma iniciativa de D.João VI viabilizou o ensino da marcenaria para a produção de móveis de estilo. A França se impõem como referência cultural na Europa e na América, após a queda de Napoleão em 1814. Em 1816, a Missão Artística Francesa chega ao Brasil trazendo os artistas desempregados que buscavam oportunidades na América. A Academia de Belas Artes é fundada fazendo com que o estilo neoclássico encontrasse a partir desse momento um solo fértil para a sua difusão nas artes e no mobiliário.


O tempo da corte no Brasil

1808 de Laurentino Gomes, editora Planeta.
Narra a saga da corte portuguesa e de como
D. João VI modernizou o Brasil.


Texto: Marjane de Andrade