quarta-feira, janeiro 07, 2009

Janete Costa - uma grande brasileira

O final de ano e início de outro é sempre um período em que se faz um balanço das perdas e ganhos em relação ao ano que terminou. O ano de 2008 foi um ano de grandes eventos e comemorações, tanto no Brasil como no resto do mundo. Porém, no dia 28 de novembro de 2008 uma grande perda tornou o final de ano mais triste. Janete Costa nascida em 3 de junho de 1932, em Garanhuns (PE) morre após longa enfermidade. Arquiteta diplomada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Rio de Janeiro, em 1961 desenvolveu uma carreira marcada por importantes projetos de arquitetura, design expositivo e de produtos. Mas, sem dúvida uma das suas maiores contribuições se dá na divulgação da arte popular e do artesanato brasileiro. Desde cedo, manifestou a sua preocupação com os artistas populares e com a sua inserção no mercado de trabalho. O ideal de Janete Costa foi o de fazer com que a arte, a arquitetura e o design, no Brasil expressassem as identidades culturais locais. A sua ação foi decisiva na valorização da arte popular brasileira e dos artistas, visando a inclusão social e a geração de renda através de seus projetos. Considerava essa integração, como ela mesma falou “...uma questão de brasilidade” ao mesmo tempo em que dava um lugar de destaque aos trabalhos de artesãos e artistas populares.

A obra

Janete Costa trabalhou com arquitetura residencial, edifícios públicos, cinemas, auditórios e teatros; hotéis, prédios comerciais, restaurantes e lojas. Nos últimos anos, dedicou-se ao projeto de hotéis, sendo um dos mais importantes o Pergamon, na cidade de São Paulo. Membro da Design Hotels of the World, o Pergamon é um dos hotéis que se destacam, no que diz respeito a renovar o conceito de hospedagem, no século 21. É o primeiro endereço, no país a estar dentro da modalidade Chic&Cheap. Janete Costa é autora de cerca de 50 endereços em todo o Brasil e, acreditava que o hotel devia funcionar como agente de mudança e canal de informação cultural. Através das idéias implementadas pela arquiteta surgem espaços inteligentes, modernos e minuciosamente detalhados. A arte está presente nos interiores do hotel, aproximando os hóspedes dos trabalhos de Alexandre Nóbrega, Aprígio, Eduardo Frota e Emanoel de Araújo entreoutros. Os móveis foram produzidos por marceneiros e artesãos brasileiros. O restaurante possui uma biblioteca, ao fundo. Nas prateleiras edições raras e coleções de livros de arte ao lado de grandes obras da literatura mundial. Os projetos de Janete Costa preenchem todos os requisitos da hotelaria internacional, porém resultam em espaços com personalidade e expressão cultural.
O design de produtos resultou da sua atuação em projetos de Interiores. Ela desenhava da cadeira à luminária, o castiçal e a colcha, levando em conta os mais variados materiais como a madeira, o metal, o vidro, o mármore e as fibras naturais. E, a execução desses projetos, na maioria das vezes ficava a cargo das cooperativas de trabalhadores e comunidades. Criou uma escola a qual muitos arquitetos e designers de interiores se sentem vinculados, principalmente no Nordeste. A “escola Janete” unia a cultura erudita e popular que eram absorvidas em pé de igualdade.

A paixão



A valorização da arte popular brasileira e do artesanato foi a forma encontrada por Janete Costa de dar a arquitetura aquilo se convencionou chamar de função social. Pesquisadora da arte popular a cerca de 40 anos e uma das maiores conhecedoras do artesanato brasileiro, a arquiteta sempre procurou incorporar peças produzidas, artesanalmente em seus projetos. Considerava que “...o artesanato aquece e embeleza os ambientes, não se trata apenas de alternativa barata” dizia Janete. Através da curadoria e montagem de exposições, no Brasil e no exterior procurou divulgar a arte popular, os artista e artesãos brasileiros. Entre as exposições organizadas por ela podemos citar: Artesanato como um caminho, Fiesp/Ciesp, São Paulo, 1985; Viva o povo brasileiro, Museu de Arte Moderna – MAM, Rio de Janeiro, 1992; Arte popular brasileira, Riocult, Rio de Janeiro, 1995; Pernambuco – Arte Popular e Artesanato, Rio Design Barra, Rio de Janeiro, 2001; Arte Popular Brasileira e Arte Popular dos Estados, Carreu du Temple, Paris, 2005; Que Chita Bacana, Sesc Belenzinho, São Paulo, 2005; Somos – Criação Popular Brasileira, Santander Cultural, Porto Alegre, 2006, Do Tamanho do Brasil, Sesc Avenida Paulista, São Paulo, 2007. Os textos que acompanhavam as exposições como a realizada no Rio Design Barra, no Rio de Janeiro e que se intitulou Pernambuco – Arte Popular e Artesanato, em 2001 explicavam que o artesanato de utensílios domésticos no Nordeste é consumido pela própria comunidade local e por pessoas da mesma classe social, cujo poder aquisitivo não lhes dá condições de acesso a produtos industrializados. Hoje, este setor ocupa 60 milhões de pessoas das regiões Norte e Nordeste do país que trabalham produzindo de forma rudimentar, enfrentando dificuldades técnicas e de comercialização.
O artesanato na opinião de Janete Costa precisa sair dos limites regionais e atingir um preço que assegure ao artesão uma melhor qualidade de vida, necessitando este trabalho de assistência técnica e a organização através de cooperativas. Janete defendia ainda um projeto de desenvolvimento técnico onde o artesanato tradicional pudesse evoluir, sem perder as suas raízes. Como disse Adélia Borges, na despedida da amiga: “...apaixonada pelo que fazia e pelas pessoas, Janete Costa foi uma grande brasileira.”

Fotos:
Recepção do Hotel Pergamon. São Paulo. Divulgação.
Mostra Pernambuco – Arte Popular e Artesanato, no Rio Design Barra, 2001.
Curadoria de Janete Costa
Texto: Marjane de Andrade